A PELE E A ARTE

A história da estética sempre esteve ligada à reflexão filosófica e à história da arte.

O termo “estética” só passou a ser usado para designar uma disciplina filosófica no século XVIII, com o filósofo iluminista alemão Alexander Baumgarten em sua obra Aesthetica (1750). Assim, a estética estabeleceu-se como um campo distinto dentro das áreas do conhecimento filosófico, advogando-se a equivalência entre o pensamento racional e a chegada à verdade pelas sensações. Designou-se por «filosofia da arte» ou «filosofia do belo».

Ao longo da História da Filosofia, a filosofia do belo tem-se debruçado sobre a experiência estética, ou seja, sobre o modo como o ser humano é afetado pelos objetos estéticos, sendo estes obras de arte, a natureza, a vida e o próprio corpo.

A dificuldade de definir a beleza vem de a beleza não ser nem una nem imutável.

Na contemporaneidade, o juízo estético correlaciona-se com a percepção do objecto e de um sentimento de prazer ou desprazer desinteressado. O gosto pode ser classificado como um conjunto de escolhas consideradas uma opção estética de qualidade, determinando-se desse modo o que é ou não belo. Porém, a consideração do que é belo não é algo intrínseco a um objeto, dependendo de um conhecimento e de uma ordem moral pré-existentes e articulando-se este entendimento com a imaginação, isto é, aquela faculdade que permite pensar o infinito a partir da contingência do finito. O pensamento estético tem também subjacente a ideia de intuição que escapa ao racional, mas que sustenta a possibilidade de aferir a beleza e o potencial estético de um objeto de arte.

Assim, a verdade da pintura e outras formas de arte está na sua fonte inspiradora, no artista e simultaneamente no íntimo do espectador que resvala para o interior da obra artística.

A comunidade artística desde sempre se inspirou na pele. Na música, na dança, na literatura, na escultura, na fotografia e sobretudo na pintura, o corpo e o seu invólucro podem ser definidos como um complexo de possíveis.

Tanto na vertente da Dermatologia Clínica como na Dermatologia Estética, a incitação à melhoria da qualidade e beleza da pele como órgão permite, frequentemente, devolver ao doente a sua dignidade e liberdade. A pele saudável e doente, a cada obra, será reinventada.

Sendo o objetivo final de uma obra sempre indeterminado, cada doente, cada pele, cada “obra”, será um caso único na estreita linha de fronteira entre o possível e o impossível, o visível e o invisível.

No campo da Medicina Estética cada Dermatologista entende e reinterpreta o corpo, seus contornos, formas e expressões tendo como base a simbiose entre a perceção do paciente, seu objeto de trabalho, e o seu sentimento de gosto, intuição, experiência sensível, profissionalismo, liberdade e noção de transitoriedade.

Em conclusão, o sentir-se belo é um estado atingível, quando nos identificamos na nossa pele, na nossa filosofia de vida e na forma como interagimos com o mundo. O Dermatologista é apenas um dos intermediários desse processo tão individual.

Sandro Botticelli – O Nascimento de Vênus